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JÉSSICA: dois poemas em movimento

  • Foto do escritor: Luiza Freitas
    Luiza Freitas
  • 8 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura

[Por Jéssica Costa M. Soares]



Esteira


Fui pega de surpresa por uma angústia sem motivo

Um nó no peito vindo do nada

Uma vontade de mudar de corpo,

De mudar de alma,

De fugir de mim.

Talvez isso seja fruto das minhas incertezas todas,

Talvez seja excesso de tédio,

Ou falta de vida!

Sinto-me numa esteira

Caminho léguas,

Corro como quem quer vencer a corrida,

Negocio com meu corpo um pouco mais de fôlego,

Negocio com minha alma um tanto a menos de prazer

E continuo a correr.

O problema de se correr numa esteira

É que nunca se chega a lugar algum!

Mas dai corro um pouco mais

Porque a vida diz que eu preciso ser sempre a melhor,

Mas me pergunto: a melhor em quê?

A melhor para quê?

Não chorar em público,

Não rir alto demais,

Não amar nem odiar com intensidade,

Não demonstrar afeto algum!

Não confiar em ninguém,

Não ter conversas profundas,

Não se divertir aos fins de semana,

Não beber,

Não fumar,

Não transar,

Não sair sem se pintar e sem se pentear,

Não dançar sem motivo,

Não apreciar o por do sol,

Não parar um instante para sentir que ainda está vivo,

E correr, correr incessantemente, desesperadamente.

Correr negociando consigo mesmo um pouco mais de fôlego,

Um pouco menos de prazer,

Porque é preciso vencer a si mesmo para ser um vencedor.

E vencedor de quê?

E vencedor para quê?

Isso tudo é tão inútil e vazio!

Guardamos nossa humanidade no bolso

E corremos feito idiotas,

Corremos em direção à morte,

Corremos em direção a lugar algum.

Hoje minha esperança se ausentou de mim,

Acordei me sentindo meio órfã,

Órfã de profundidade, de intensidade e de vida.

Estou procurando almas que sejam capazes de tocar a minha

Mas saio na rua e vejo apenas corpos,

Corpos que correm.


Corpos que correm numa esteira.


Sobre o saber

“Mas eu nem sei o que estou fazendo” E isso é uma das minhas melhores características Não sei antes Dou-me a possibilidade de ir descobrindo pelo caminho Não me interessa ir sabendo antes de viver Saber antes impede o saber. Não quero saber a partir da ideia das coisas Quero saber a partir da minha relação com elas Quero saber pelo toque, pelo cheiro, pelo gosto Quero saber pelo som e pela imagem Não do que imagino, mas daquilo que é. Não me interessa viver a vida sentada em sua margem Imaginando como é mergulhar nela Não me interessa ser uma expectadora que teoriza sobre a experiência Quero vivenciá-la! Quero mergulhar na vida e me lambuzar nela Quero estar dentro Banhando-me nela Com meu corpo inteiro Com todos os meus sentidos aguçados Confiando que eu só posso saber aquilo que me sabe Só posso viver aquilo que me vive.



*



Jéssica Costa de Macedo Soares. Escutadora de histórias, costureira de sentidos, sustentadora de nadas. Poeta e psicóloga humanista. Escrevo para contar histórias e para fazer ecoar o que tem sido silenciado em todos nós.

 
 
 

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