nascer um sol: poema de voz
- Luiza Freitas
- 21 de mar. de 2023
- 1 min de leitura
nascer um sol
lá fora
alguma coisa encontra
geografias
desconhecidas
derruba as cercas do corpo
invade o ventre de vontade
e então
somos livres
dobrei a esquina
como que dobrando
lençóis
solitária
as pontas mal se encontram
a coisa fica torta
e desdobrando
a coisa voa
então virei o corpo
retomei a quina
flutuei
num vai e vem sem volta
ida eterna
me fui como vim
alertando o espaço
tão silenciosamente
tão disfarçadamente
que o mundo ficou
distante
no horizonte
de um mar
de asfalto
o mundo ficou
e eu indo
fazendo de conta
que sabia como
que fingia bem
que era tudo verso
na linha incomum
o olhar desbota
e para
no verso anterior
na conversa de ontem
hoje acordei menos
cansada
e um pouco mais
sutil
arrebentei o corpo
na parede do
útero
e pude sangrar
carinhosa
pude chorar
dobrando
as lágrimas
guardando na boca
não era nada triste
ver o sol morrer
junto dele vinha
a noite
e a noite
a noite era chuvosa
então éramos várias
chorando

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